Internet das Coisas: qual a vocação brasileira?

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6:46 pm - 09 de maio de 2017

Internet das Coisas, conhecida também pela sigla IoT (de “Internet of Things”, em inglês) está há algum tempo no radar de muitos gestores como uma tecnologia de grande impacto no futuro. Essa presença no radar é tão forte que até mesmo o Governo Federal formou vários grupos de estudo sobre o tema, propiciou a contratação de um grande projeto de consultoria (por meio do BNDES) para descobrir caminhos que permitam maximimizar os benefícios prometidos pela IoT.

Assim como acontece com muitas novidades tecnológicas, alguns fornecedores se aproveitam da falta de maturidade na compreensão da tecnologia pelo mercado para promover conceitos e definições distorcidos, que melhor atendem a seus interesses comerciais. Por exemplo, tem quem promova IoT como uma nova ‘vertical’ de mercado, com foco centrado em indústrias ou em ‘smart cities’. Essas visões parciais costumam ser acompanhadas por menções a ‘desenvolvedores de IoT’.

Por isso é fundamental, para responder a questão do título, ter uma compreensão clara e abrangente das inovações que virão. IoT é de fato a próxima ‘grande onda’ da Tecnologia da Informação: depois da onda do downsizing dos PCs e da onda dos dispositivos móveis (celulares, tablets, máquinas de cartão de crédito), vem a onda da Internet das Coisas.

Assim como os dispositivos móveis, a Internet das Coisas depende totalmente da disponibilidade ampla de redes de comunicação de dados (necessidade preenchida pela Internet). A diferença básica entre o mundo mobile e o mundo IoT é que o mundo mobile foi pensado para ser operado por seres humanos, enquanto no mundo IoT os ‘pequenos’ computadores chamados de sensores inteligentes se comunicam com outros computadores sem intervenção humana direta (ao menos de forma constante).

Ao reconhecer este fato, as consequencias da ‘onda de IoT’ ficam mais fáceis de serem compreendidas. Em primeiro lugar, teremos uma nova ‘enxurrada’ de dispositivos sendo vendida e instalada, em número ainda maior que os dispositivos móveis. Isto gera enormes oportunidades de comercialização, e também de fabricação desses dispositivos. No terreno da fabricação dos dispositivos, entretanto, constatamos a ausência de iniciativas genuinamente nacionais: o recente anúncio da instalação de uma fábrica de CPUs de empresa multinacional com foco em IoT (com um investimento estimado em apenas duzentos milhões de dólares) comprova esta análise da nossa realidade.

A segunda consequencia da ‘onda de IoT’ é que haverá um aumento brutal na demanda por software, não apenas para tornar os dispositivos operacionais, mas para integrá-los com os sistemas de Tecnologia da Informação já existentes. A grande maioria dos auto-denominados ‘desenvolvedores de IoT’ estão focados em tornar os dispositivos operantes. Portanto, há um enorme ‘gap’ em formação, para a integração de IoT com a TI: uma enorme oportunidade de negócios, consistente na criação de software.

Obviamente, não há no país ninguém mais capacitado que a indústria de software já existente para aproveitar esta nova oportunidade, que não é limitada ao mercado nacional: os dispositivos de IoT, ao não disporem de interface de usuário, são quase sempre a base de sistemas de aplicação global.

Assim, é indispensável preparar a indústria local de software para ‘surfar’ esta nova ‘onda’, o que inclui tanto os novos conhecimentos técnicos, quanto a capacidade de competição internacional.

Caso não sejamos capazes de promover esta preparação (seja por parte do governo, do BNDES ou das entidades privadas), estaremos condenando o país a aumentar mais uma vez sua dependência externa em termos de inovação tecnológica (facilmente constatável ao analisar a nossa balança de comércio internacional).

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