Interfaces de um sistema – Sua importância para o sucesso de um projeto

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5:00 pm - 16 de janeiro de 2019

Nas minhas aulas para os alunos dos cursos da área de TI, um dos aspectos para o qual eu mais considero necessário dedicar um bom tempo e buscar incessantemente a compreensão por parte deles, é aquele que aborda as características e propriedades de um sistema. Dentre essas características, ressalto aquela que trata das interfaces de um sistema.

Em uma primeira abordagem sobre essas interfaces, discorremos sobre as interfaces internas, ou seja, aquelas que ocorrem entre os elementos que integram o sistema. Comentamos ser fundamental adquirir a compreensão e, em consequência, desenvolver a habilidade de enxergar que deve haver um cuidado especial ao definirmos os elementos que compõem um sistema, pois esses elementos, e aqui vai uma outra característica essencial de um sistema, estarão interligados entre si e deverão agir de forma interdependente, a fim de que o sistema atinja os objetivos para os quais foi criado.

Aliás, reforçamos sempre que a criação de qualquer sistema deve iniciar-se e guiar-se pelo fim, ou seja, para qual objetivo ele está sendo criado/desenvolvido/aperfeiçoado.

Esses elementos podem ser físicos (pessoas, equipamentos, componentes, instalações) e abstratos (conceitos, ideias, informações, procedimentos, hipóteses, comportamento). Entender que esses elementos “conversam” entre si, trocam dados, informações, proporcionam inputs e outputs. Também, é essencial entender que as funções que um elemento executa refletem naquilo que um outro elemento irá executar. É dessa interação que surge o conceito de Sinergia – O todo é maior que a soma das partes, por conta das relações que há entre os elementos que compõem o sistema.

A segunda abordagem sobre interfaces de um sistema é aquela que trata das suas interfaces externas, em especial, as relacionadas com os seus usuários. Ao projetar qualquer sistema para uso humano e se quisermos que o mesmo tenha sucesso, precisamos conhecer de melhor forma seus usuários. Aqui que nos valemos de conhecimentos ligados a outras ciências, tais como psicologia, sociologia, ergonomia, linguística, design, que irão nos proporcionar orientações valiosas sobre o comportamento desses usuários, quais suas expectativas em relação ao que o sistema oferece, as funcionalidades que ele proporciona, sua forma de utilização, etc.

Para produzir tecnologia que auxilie os humanos, é necessário antes conhecê-los.

Reforço, sempre, que quem vai definir se o sistema é eficaz, ou não, são os seus usuários. Há, ainda, uma série de outros elementos que devem ser considerados nessa abordagem sobre interfaces externas de um sistema, que compõem o chamado “contexto do sistema”. Vale lembrar que essas interfaces, tal e qual as interfaces com o usuário ou entre os elementos que compõem o sistema, podem ser tanto físicas quanto funcionais.

Além de conhecer os usuários, fundamental conhecer e entender as características do ambiente em que esse sistema será utilizado. O sistema tem interfaces com uma série de aspectos que estão presentes nesse ambiente. Aspectos tecnológicos existentes ou em desenvolvimento, aspectos culturais e sociais, entre outros.

Um outro elemento a ser considerado é aquele que trata das Interfaces com outros sistemas que sejam físicos ou abstratos. Interface de software com hardware, software com software, hardware com hardware.

Muito conhecidas as histórias sobre softwares que ao serem implantados travaram as máquinas que os abrigaram, pois estas não os suportavam ou porque tinham incompatibilidade com outros softwares.

Observar e analisar as características do ambiente cotidiano em que o sistema será utilizado é um modo de desenvolver uma sensibilidade ao mundo em que vivemos e trabalhamos.

O conhecimento desses elementos com os quais o sistema terá interface está inserido na fase que os profissionais denominam de “levantamento de requisitos”, que é, praticamente a primeira fase do projeto de um sistema.

A proposta de reflexão contida neste artigo, com caráter muito didático, é resultado de diversas discussões tidas com os alunos em sala de aula.

Sempre que abordo esse tema e sua importância para que o projeto do sistema, até sua conclusão, seja revestido de sucesso, a maioria daqueles que já atuam na área relata que, na prática, muito pouca atenção é dada no sentido de que se faça um completo levantamento de requisitos e que englobe uma profunda prospecção e análise desses aspectos que fazem parte do contexto do sistema.

Pressões em relação ao tempo para execução do projeto (“não há tempo para isso”), verba disponível (“e nem dinheiro”) e a falta de conhecimento sobre o assunto “interfaces” são os principais fatores relatados que levam ao negligenciamento dessa etapa tão importante para o desenvolvimento do projeto de qualquer sistema.

Seguindo com a discussão em sala de aula, consigo extrair dos alunos alguns outros fatores que contribuem para essa deficiência:

  • Via de regra, há mais foco no sistema do que no usuário;
  • Impacto da introdução de novas tecnologias desprezado;
  • Design de software desconsiderado.

Dessa forma, chegamos a projetos com muitas idas e vindas, substituição de componentes, reformulações de escopo, perda de tempo e de dinheiro e sistemas que se mostram ineficazes no momento em que são implantados.

A qualidade da interface determina se os usuários aceitam ou recusam um sistema.

Portanto, fica aqui a minha principal recomendação: que as empresas e os profissionais, ao desenvolver projetos de sistemas, despertem para a ideia de que uma adequada gestão dos aspectos relacionados às interfaces proporcionam maiores chances de sucesso do produto.

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