Fusões e aquisições: por que aproveitar o melhor dos mundos não dá sempre certo?

Na jornada de integração, existe uma ponderação constante e fundamental: quais as prioridades de cada estágio de unificação?

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2:00 pm - 11 de março de 2019

Por Ricardo Stucchi*

O movimento de fusões e aquisições mudou realidades de diversos mercados nos últimos anos – e está longe de alcançar um esgotamento. Só no primeiro semestre de 2018, os anúncios envolvendo incorporações e vendas totalizaram R$ 84 bilhões, é o que reporta a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Outras pesquisas indicam que a expectativa para 2019 é de movimentações ainda maiores, com crescimento de até 15% desse montante. E essa corrida tem um motivo – ou vários deles: na busca por competitividade, empresas de diversos setores unem-se para combinar expertises, ampliar market share ou portfólio, aumentar a carteira de clientes, expandir geograficamente ou entrar em novos setores.  Assim, tornam-se mais fortes.

Mas a verdade é que o anúncio do acordo apenas inaugura uma intensa jornada de integração.  E obviamente precisamos falar sobre a TI nesse contexto.

Ainda que as empresas estejam unindo esforços, os processos de fusão e aquisição sempre geram tensão. Há uma tendência natural de cada parte de defender o seu território, suas ações e suas ideias. Nesse contexto surge uma abordagem que é tentadora de aproveitar o melhor dos mundos. Na pele de consultor, minha experiência com projetos desse tipo nos últimos anos posso afirmar: isso não dá certo.

Para realizar uma integração bem sucedida dos ambientes de TI – e para que essa estratégia converse efetivamente com as expectativas do negócio -, o primeiro passo é realizar um diagnóstico de ambas as empresas, independentemente da fusão, a fim de compreender o momento de cada organização, mapear seus processos de negócio e atendimento pelos sistemas. A partir do diagnóstico concluído, o projeto de fusão para construção da nova empresa torna-se um universo particular, feito de prioridades e demandas únicas.

Em uma fusão, a criação de um plano diretor de TI (ou PDTI) sintonizado com o negócio pressupõe a definição de estratégias e ações no curto, médio e longo prazos, chegando ao final dessa jornada com a unificação completa de processos, equipes e tecnologias. Ao longo de todo o caminho, há uma ponderação fundamental: quais são as sinergias prioritárias da fusão para o negócio?

Essa pergunta só pode ser endereçada a partir do entendimento dos objetivos conjuntos da organização que se forma. Isso quer dizer que, embora a integração de sistemas seja ponto central de discussão, essa ação deverá ser estabelecida de acordo com os desafios do negócio. Na escolha entre um sistema e outro, ainda podemos questionar: a empresa, naquele estágio, precisa do melhor software ou do mais eficiente?

Não há uma resposta pré-definida.

Podemos aplicar essa reflexão a qualquer outra ação inserida no plano estratégico, dentro do cenário de mudança. Explico melhor: para uma determinada empresa, o PDTI pode indicar como passo primordial o foco na área comercial, atacando o CRM, fortalecendo a base de dados de clientes e unificando a central de vendas, por exemplo. Em outro contexto, o plano pode indicar como ação imediata a integração de marcas em todos os ambientes físicos e digitais em que ela esteja posicionada. Perceba: o negócio dita as prioridades.

Inúmeros processos de integração não correspondem às expectativas porque tropeçam na união entre tecnologia e demais áreas, como vendas, compras, logística e fiscal. O insucesso ocorre, muitas vezes, pela avaliação insuficiente de informações sobre processos, pessoas e particularidades do negócio. É fundamental durante a fase de due diligence – que consiste na avaliação dos aspectos elementares da empresa, a fim de mapear os riscos envolvidos no acordo -, o ambiente de TI também seja levado em conta, pois muitos investimentos podem ser identificados como fundamentais para a fusão.

E o mais importante: toda empresa que atravessa uma jornada de transformação, a partir de uma fusão ou aquisição, deve ter em mente que é preciso seguir o plano definido mesmo com as diversas pressões para mudanças que vão ocorrer. Isso não significa ignorar novidades que se apresentem ou deixar de trabalhar sobre ajustes, mas sim compreender que um plano realmente viável  e efetivo pressupõe a definição de prioridades. Em um cenário em que os sistemas de informação embasam operações e auxiliam na busca de oportunidades de mercado, o papel da TI nos processos de M&A torna-se fundamental para o sucesso de qualquer integração.

*Ricardo Stucchi é sócio-consultor da Lozinsky Consultoria

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