Fugindo de Compras Padronizadas e/ou Cartéis

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7:31 pm - 19 de março de 2015

Sempre que um grande comprador de produtos ou serviços de TI elabora suas requisições de compra, ele impacta o mercado fornecedor. Entretanto, às vezes ocorre um abuso (ou exagero) nesses grandes processos de compras, que acabam por prejudicar a livre concorrência entre os fornecedores.

A maioria dos exemplos desta situação que tomamos conhecimento recentemente se baseia na escolha de um fornecedor único, em nome da economia gerada. Por exemplo, parece razoável que grandes indústrias com redes de distribuição próprias ou credenciadas (revendas ou franquiadas) obriguem toda sua rede a adotar uma mesma solução de TI (hardware ou software) em nome da padronização, economia, etc.

Essa escolha, entretanto, tem impacto negativo sobre o mercado de potenciais fornecedores: aqueles que se prepararam para atender esse mercado e foram preteridos na escolha, verão seu mercado potencial encolher rapidamente (ou sumir, literalmente). Ainda, a escolha de um único fornecedor sujeita o comprador a depender deste: esta é uma fonte de problemas bem conhecida dos CIOs.

Essa mesma atitude de centralizar as compras num único fornecedor pode ser encontrada não apenas no setor privado, mas também nos órgãos públicos que exigem uma determinada solução para se interagir com eles (considere, por exemplo, o software para a entrega de declarações de Imposto de Renda, cujo desenvolvimento é de exclusividade do Serpro).

Há muitas décadas que existe uma solução mais inteligente na área de TI: a criação de padrões de interação entre as partes envolvidas. Talvez o caso mais famoso na história da TI seja o processo de criação do EDI (Electronic Data Interchange), cujos primórdios se remontam a uma tentativa de criação de monopólio barrada pelo governo dos Estados Unidos. Em vez de deixar todas as transações com seus fornecedores de produtos para essa rede de varejo na mão de um único fornecedor de TI, o WalMart concordou em publicar uma especificação dos padrões de interação com seus sistemas (a versão atual está disponível, p.ex., em http://www.jobisez.com/edi/tp/vendor.aspx?id=Walmart).

Como consequencia dessa decisão, há uma diversidade de fornecedores de soluções de EDI disputando esse mercado específico. Essa competição termina por tornar o setor de TI mais competitivo, além de gerar inovações para os clientes muito mais rapidamente do que no modelo de fornecedor único.

Convidamos, portanto, os formuladores de processos de compra com estas características a que, em vez de selecionar um fornecedor, publiquem uma interface padronizada (seja na forma de arquivos XML, por meio de webservices ou APIs, ou qualquer outro protocolo de comunicação), disponível a todos os fornecedores de soluções.

Com esse tipo de solução, todos ganham: as necessidades dos grandes compradores serão atendidas de forma mais inovadora, a custos menores e com menos riscos, a indústria fornecedora de soluções se torna mais competitiva, e, em última instância, gera mais empregos e impostos para o país.

Para concluir, imaginemos algumas possibilidades que se abririam: no caso do Imposto de Renda, se a sua funcionalidade estivesse disponível como uma API, os sistemas contábeis poderiam proceder à entrega automatizada das declarações (sem que tivéssemos que reprocessar as mesmas informações).

Já no caso das indústrias com redes de distribuição, elas passariam a ser capazes de permitir que cada membro da rede contrate um fornecedor compatível com seu tamanho e capacidade de investimento, sem perder a capacidade de unificar todas as informações necessárias na indústria ‘âncora’, mas ganhando uma disputa entre fornecedores para ver quem melhor ‘dá conta do recado’.

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