Dubai: o emirado startup

Como implantar a mentalidade de uma startup em um pais inteiro

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9:59 am - 25 de fevereiro de 2022
dubai, emirados árabes Foto: Shutterstock

No mês de dezembro estive em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para visitar a ExpoDubai e aprofundar o relacionamento com uma startup investida, participante e protagonista do evento. Foi uma sequência de gratas supresas que quero dividir aqui com vocês, a começar da própria Expo. A Torre Eiffel, a roda gigante, o ketchup, o telefone sem fio, o Raio X e o formato IMAX para o cinema, dentre outras inovações bastante presentes na nossa rotina, foram apresentadas pela primeira vez em uma Expo. Desde a edição inicial em Londres em 1851, esta é a primeira vez que o evento acontece em um pais árabe, e não poderia fazer mais sentido do que em Dubai.

Já tendo conhecido Dubai e os Emirados Árabes Unidos a passeio em 2018, desta vez pude observar e aprender mais sobre eles pelo lado dos negócios, da governança e, principalmente, da inovação. Esta combinação de fatos e observações ajudou-me a nomear este artigo.

Tendo como base de sua riqueza o petróleo, Dubai percebeu nos anos 2000 que, sendo um recurso finito, o petróleo deveria ser tratado como “meio” e não como “fim” para perpetuar a sua prosperidade. O turismo é hoje o lado conhecido e visível, mas a inovação se torna protagonista logo que se entra na ExpoDubai. A título de exemplo, quando a Expo terminar  em março, 80% dos prédios construídos continuarão a funcionar, tornando-se um bairro inteligente nomeado Distrito 2020. O objetivo é hospedar um ecossistema de inovação que  combinará os eixos temáticos da feira – oportunidade, mobilidade e sustentabilidade – muita tecnologia,  ciência, e a possibilidade de se viver e trabalhar  em um mesmo espaço, focando na qualidade de vida de seus moradores.

Mas o que realmente chama a atenção de quem visita a Expo é quão dedicados estão os gestores e governantes de Dubai em pilotar e experimentar as diversas novas tecnologias e inovações sendo mostradas nos 191 pavilhões dos países presentes. A inovação está presente já na entrada quando você pode baixar no seu celular o aplicativo Expo Dubai Explorer, permitindo  experiências de realidade aumentada ou de interagir com pessoas que estão do outro lado do mundo em tempo real, já que toda a Expo dispõe de rede 5G. É a experiência do metaverso sendo colocada em prática.

Essa e diversas outras iniciativas são facilmente associados às startups em suas 4 fases, Ideação, Validação, Tração ou Escala (caderno Governança Corporativa para Startups e Scale-ups do IBGC).  Algumas das tecnologias de mobilidade já são presentes na sua fase de Escala por toda Dubai. Outras, como as células de captação de energia em formato de árvores que se movem na busca da melhor insolação e que compõem a paisagem de forma harmoniosa, ainda encontram-se numa fase anterior. A combinação do antigo com o novo, do convencional com o inovador, é impressionante.

E a governança, onde ela se faz presente? Ela se  apresenta a todo minuto. A começar pelo desafio de realizar um evento em 2022 chamado Expo2020Dubai porque deveria ter ocorrido em 2020. Viabilizar um evento desta dimensão envolvendo governos e pessoas de 191 paises em meio a uma pandemia exige uma capacidade incrivel de governar as adversidades e contornar as complexidades. Apenas um   exemplo dessa complexidade:  as pessoas nos pavilhões recepcionando os visitantes são todas originárias de seus próprios países. A expectativa original de receber visitantes internacionais na sua grande maioria inverteu-se. Essa situação era visível na Expo onde de cada 10 pessoas, 5 ou 6 circulavam com trajes locais. Também impressionou ver uma quantidade expressiva de crianças/escolas visitando os pavilhões, uma realidade frequente no velho mundo mas inédita no mundo árabe. Alias, onde no mundo vamos encontrar um pais com mais de 85% da população de estrangeiros? Pois saibam que esta é a relação de cidadãos locais em relação aos estrangeiros, 1 para 8.

Em uma reunião com uma grande multinancional do setor de tecnologia pude observar o desafio de governança que se vive em Dubai. A empresa com mais de 3 mil funcionários tem menos de uma dezena de locais (conhecidos como emiratis). Conversando com três de seus profissionais, uma americana, uma alemã e um francês, todos foram unânimes em afirmar que não pretendem voltar a seus países de origem; querem tornar Dubai seu país de residência definitiva e mesmo quando  se aposentarem  . Isso foi justificado pela qualidade de vida, modernidade  e, principalmente, oportunidade de vivenciar experiências novas, tudo em um ritmo de crescimento próximo de 40% ao ano.

Várias pessoas tem me perguntado se a experiência valeu a pena. Minha resposta tem sido “valeu, e muito”. A ExpoDubai, infelizmente, termina em março . Mas o legado que ela vai deixar para a região e para o mundo ficará para sempre perpetuado no “Emirado Startup”.

* Giancarlo Berry é sócio da AcNext Capital, investidor anjo e membro da Comissão de Startups e Scale-Ups do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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