Blockchain: da teoria à prática

Confira alguns dos impactos da tecnologia Blockchain no dia a dia

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7:32 am - 28 de março de 2019

Inicio hoje a coluna Blockchain: da teoria à prática. Quero ajudar os interessados no tema a encontrarem os caminhos dessa revolução, que está apenas começando.

Primeiro, quero explicar a motivação do tema da coluna. Essa palavra, blockchain, tem sido extensamente utilizada em publicações em todo o mundo, como um “meme” que tomou conta da internet. Apesar disso, poucas pessoas têm real dimensão dos possíveis usos da tecnologia e como inserir o conceito de banco de dados distribuído em sua realidade comercial. É nesse ponto que o nome da coluna encontra motivo: ajudar os interessados a passarem de leituras randômicas na internet ao entendimento de usos práticos da tecnologia blockchain em seu dia a dia.

O blockchain é palavra da moda, assim como os termos inteligência artificial, big data, machine learning, entre outras grandes tendências. As super plataformas sociais globais, como Google, Facebook e Apple, estão contratando profissionais experientes em blockchain a peso de ouro. E isso tem um motivo que explicarei e exemplificarei nesta coluna nos próximos meses.

Mas, na prática, o que significa blockchain e quais os usos desta tecnologia? Isso depende do seu setor de atuação profissional. Cedo ou tarde, todos os setores da economia, desde as ciências exatas às ciências sociais terão partes de sua rotina integrados a uma blockchain.

O blockchain

Blockchain é um banco de dados com informações gravadas em blocos de dados, e estes blocos são interligados com chaves criptográficas, sempre contendo um hash (uma função criptográfica) do bloco anterior ligado ao novo bloco. Com isso cria-se uma sequência de blocos com a segurança de que caso haja alteração em qualquer dado de qualquer bloco, todos os blocos subsequentes também terão de ser alterados.

Portanto todos os blocos da rede contêm uma ligação, como se formasse um histórico das informações desde o primeiro bloco, o 01. Outro conceito interessante é o ‘timestamp‘ (impressão de tempo). O bloco número 01 contém a informação de tempo “zero”, e todas as informações gravadas na sequência contém um ‘timestamp que registra essa informação na linha do tempo da blockchain, possibilitando o rastreamento sequencial das informações.

Juntando as peças, temos os ‘hashes’ criptográficos dando segurança aos dados. Temos o ‘timestamp dando sequência e rastreamento aos dados. E temos descentralização dos dados, ou seja, não existe uma autoridade central intermediando as informações para garantir a veracidade dos dados. A verdade está escrita na blockchain, sequencialmente e sem uma autoridade central intermediadora, decentralizada, segura, e acessível a todos.

As criptmoedas

Chegou o momento de falar delas. Algumas vezes marginalizadas, outras vezes consideradas as heroínas do novo mercado financeiro, a atriz por detrás do fim dos bancos. É importante entender a real dimensão dos cripto ativos, ou ‘tokens’, ou “vulgarmente” chamadas, criptomoedas.

Para facilitar o entendimento, falarei apenas do Bitcoin. Descrita por um homônimo autointitulado Satoshi Nakamoto, o Bitcoin pode ser considerado o protocolo original blockchain. Publicado na internet em 18 de outubro de 2008, o protocolo bitcoin tornou-se a base desta grande revolução.

A ideia central é possibilitar a troca de valores eletrônicos na internet sem a necessidade de uma instituição validadora. O uso financeiro da troca de valores foi a primeira consequência do sucesso do protocolo, mas como dito por Satoshi Nakamoto, foi apenas a primeira parte da revolução.

O mecanismo que valida as transações sem a necessidade de uma instituição é chamado ‘proof-of-work (prova de trabalho). Este mecanismo utiliza extensa capacidade computacional de processamento através de um algoritmo intitulado SHA-256 que cria um jogo criptográfico para remuneração da validação das informações da rede Bitcoin.

Quando um intermediário (banco) valida uma transação financeira,  ele fica com uma parte do valor por meio da cobrança de uma taxa. Essa cobrança se motiva pelos custos envolvidos de funcionários, equipamentos e toda infraestrutura necessária para validar a informação entre as partes pagadora e recebedora do valor.

Na rede Bitcoin, o instrumento de remuneração é descobrir a chave criptográfica e em troca disso ganha-se o direito de gravar a informação na rede e neste momento, APENAS NESTE MOMENTO, são criados bitcoins que serão “entregues” pela plataforma àquele que descobriu esta chave e gravou estas informações no bloco da vez. Este bloco é então gravado em todos os computadores clientes Bitcoin. A cada 10 minutos é criado um novo bloco, portanto, a cada 10 minutos são criados bitcoins, que ficam em posse do equipamento ou do pool (grupo) de equipamentos que desvendou a chave criptográfica.

Esse é o mecanismo de remuneração do poder computacional envolvido na gravação e segurança das informações da blockchain original, do Bitcoin.

Vamos um pouco além. Este mecanismo possibilita a criação de valor real através da validação de dados sobre transferências financeiras. Mas por que nos limitarmos a valores financeiros, podemos agora validar digitalmente a transferência de QUALQUER VALOR, financeiro ou não financeiro.

Deixe-me explicar. Podemos digitalizar a posse e transferência de valores como direitos autorais, imóveis, veículos, dados pessoais, identidades…  Aqui a coisa fica interessante.

A internet dos valores

A internet hoje é baseada na consulta de informações. Passamos grande parte de nosso tempo vasculhando a internet em busca de dados sobre o tempo, política, em redes sociais, troca de mensagens, ou seja, estamos trocando e consultando informações a todo momento. A realidade que o blockchain nos traz é transformar a troca de valores pela internet, algo tão corriqueiro como fazer um comentário em uma rede social, pegar um Uber para ir ao trabalho e comprar uma pizza pelo aplicativo de entrega.

Temos agora uma tecnologia que nos permite digitalizar e automatizar uma série de transferências de valores antes impossíveis. Para transferir a posse de um imóvel, dependíamos de um cartório, hoje podemos fazer isso com segurança e por uma fração dos custos e tempo envolvidos com a blockchain.

Uma coisa que tem incomodado muita gente, inclusive eu, é a propriedade de dados pessoais. Fico irritado em saber que meus hábitos de pesquisa, interesses pessoais, dados sensíveis estão sendo negociados pelas plataformas que hoje utilizo para gastar meu tempo consumindo informações. Além de não saber e ter controle como estão utilizando minhas informações pessoais, ainda fico chateado sabendo que estão monetizando estes dados sem repartir nada comigo! Poxa Facebook, cadê minha cota parte no uso de meus dados pessoais, hein? A privacidade é outra revolução blockchain. Compartilhar com quem quero, o que quero, e se alguém for remunerado por isso, que seja eu!

Aí vem o blockchain fone, aí vem a interação blockchain com internet das coisas (IoT), aí vem o uso na saúde, nos imóveis, no campo, nos alimentos, na construção civil, na arte, na música, na política, nas finanças. Enfim, em todas as áreas da vida dos seres humanos, que mais uma vez às pressas tem que se acostumar com uma nova tecnologia, novos conceitos, uma nova curva de aprendizado… E é bom ir se acostumando. O blockchain veio para ficar e fazer cada vez mais parte de nossas vidas.

E pessoas como eu que vão tentar cada vez mais entender e explicar o que fazer com mais essa grande evolução do conhecimento, o blockchain.

Até a próxima coluna Blockchain: da teoria à prática. Fique atento, nas próximas semanas abordaremos especificamente sobre seu ramo de negócio.

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