A necessidade de saber de tudo nos levará a um crash mental!

Lider de vendas relata sua experiência na última edição do maior evento de inovação do mundo, o SXSW

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9:31 am - 05 de maio de 2019

Existiam uma ampla quantidade de grupos de whatsapp que podiam ser classificados por: temas de interesses, ‘happy hours’, baladas e restaurantes. Desses grupos, surgiram dois convites para eventos prévios no Brasil, onde foram mencionadas algumas dicas sobre como aproveitar os melhores momentos do evento

A empolgação das pessoas nos grupos ou nos eventos prévios era o que estava me deixando cada vez mais animado. Contudo, confesso que estava achando exagerado demais, e para quem tem dificuldade de falar não e quer estar em tudo e com todos, tornou-se muito difícil conciliar. Mal podia esperar para o que estava por vir.

Quando desembarquei na cidade de Austin, o que todos tanto falavam tomou conta de mim também. A atmosfera da cidade, a empolgação das pessoas, entendi o porquê do lema da cidade ‘Keep Austin Weird’ (mantenha Austin esquisita), tudo fez sentido. Naquele momento, o clima girava em torno da inovação e das pessoas sedentas por conteúdo e experiências de diversos tipos, em todo momento e em cada esquina.

Após aquele momento inicial de euforia, comecei a tentar me organizar sobre o que assistir ou visitar primeiro. A oferta de conteúdo era gigante, abordando temas ligados a inteligência artificial (IA), blockchain, comportamento humano, política, futuro dos alimentos e privacidade de dados. Em paralelo, estavam rolando ações ligadas a ‘live marketing’ nas casas da Sony, LG, LinkedIn, SAP, Casa Brasil (organizado pela APEX).

Optei pela concorrida, mas extensa agenda de conteúdo. Comecei, período por período, dia por dia, a ficar mais angustiado, ou com o já famoso FOMO (Fear of missing out), aquela sensação de estar perdendo coisas melhores do que eu escolhi para ver.

Era só encontrar pessoas pelo corredor ou durante uma rápida parada em um dos ‘food-trucks’ para comer um lanche e pronto: “Que conteúdo você viu? Ah não, então você perdeu uma palestra incrível sobre empatia e ‘storytelling’ que estava rolando ali…”. Lá eu ia buscar no App do evento se teria uma nova sessão dessa palestra ou algo ligado ao tema.

No final do dia, me encontrava com o pessoal de um dos grupos de whatsapp. Sempre nos reuníamos em um ótimo PUB na 6th Avenue. Durante a conversa e um chopp e outro, voltava a sensação de não ter aproveitado tanto assim quando já achava.

Compartilhei minha angustia com uma das pessoas do grupo e recebi a melhor resposta, que mudaria minha experiência durante o Festival. “Faz o seguinte, seleciona uma palestra de conteúdo que tenha curiosidade. Depois, curta o festival, a cidade e arrisque parar numa fila sem saber o que vai ver.” E assim eu fiz:

A partir do segundo dia, vivi o clima do evento com propriedade, inclusive, segui a risca essa dica de entrar na fila sem saber quem eu iria ver e sem me preocupar do que estaria perdendo. Foi mais de uma hora de fila que me fez conhecer pessoas, vivenciar uma ação de marketing de oportunidade da Uber eats servindo sorvete para quem estava na fila e no sol.

Toda essa espera me presenteou em um dos mais emocionantes painéis dos últimos tempos que já vi, com Alexandria Ocasio-Cortes, 29 anos, a política mais jovem do parlamento americano e cara do partido democrata. Sua força e clareza na fala, suas opiniões sobre temas como inclusão, imigração, educação e saúde fizeram com que ela fosse aplaudida de pé, ao chegar e sair do ‘Ballroom D’, um dos principais auditórios.

Eu jamais escolheria essa palestra para assistir e entendi depois, lendo mais sobre ela, o quanto e o porquê Ocasio-Cortes vem ganhando tantos e tantos seguidores nos EUA. Quando foi perguntada sobre ter medo de suas posições contundentes e do meio político, ela, com tranquilidade, mas firmeza na fala respondeu: “O maior antídoto para o medo é escolher ser corajoso. Coragem é o futuro, medo é ansiedade. Se você está cansado de viver numa nação ansiosa, não pode ser governado por isso. Eu vou levantar e mostrar coragem.”

Se você tiver curiosidade de assistir a este painel, ele está na integra aqui.

Sabe aquela sensação de que precisamos saber de tudo, com profundidade do assunto, de estar em todos os lugares possíveis, se relacionar e estar atento a toda transformação que vem impactando todos nós, independente da profissão ou do setor de atuação ou do estilo de vida que se leva.

O festival realizado na cidade de Austin me deu a possibilidade de perceber que preciso fugir um pouco dessa armadilha e consumir conteúdo daquilo que não faz parte do meu cotidiano. Somos reféns da rotina, seja por força da necessidade de conhecer com profundidade a área de atuação, seja pelos cookies que geramos diariamente ou pela enxurrada de notificações que recebemos em nossos ‘smartphones’ por minuto.

Esse comportamento nos levará a consumir conteúdo superficial. No meu caso, continuarei com todas as dúvidas que hoje já tenho.

Temos informação sobre tudo, a todo tempo, o tempo inteiro. Mas não precisamos, por pior que a ‘FOMO’ bata no dia a dia.

Não é à toa, algumas das palestras mais comentadas durante o SXSW não estavam relacionadas a robôs, carros autônomos, futuro do trabalho. Estavam ligadas a assuntos focados em pessoas como empatia, afeto e relacionamentos pessoais.

Querer ou acreditar que precisamos saber tudo o todo tempo, nos levará a um ‘crash’ mental, frieza relacional e continuaremos sendo superficiais.

Por André Cavalli, diretor de Vendas da IT Mídia

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