A inovação tecnológica no Brasil não entrou em quarentena

Por Werter Padilha*

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por ABES
11:33 am - 15 de julho de 2020

É consenso entre todos nós que nosso Brasil tem grandes desafios em função dos impactos negativos que esta pandemia trouxe a nossa economia, como geração de empregos e renda. As medidas econômicas, agenda de reformas e políticas sociais estão sendo revisadas e propostas com perspectiva de levantar o país do tombo ainda a curto prazo, voltando a retomada de crescimento a médio e longo prazos.

Poderia ficar lamentando (e motivos não faltariam), mas considero muito mais produtivo apontar as oportunidades de incentivo à inovação e empreendedorismo que tem se apresentado ao Brasil em pouco mais de quatro meses de pandemia, o que me permite dizer que a inovação tecnológica no Brasil não entrou em quarentena.

Do lado governamental tivemos, no período, vários editais e processos seletivos vindos de organizações como Finep, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Senai, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), com apoio de parques tecnológicos, aceleradoras e empresas. Projetos visando Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, big data, indústria 4.0, health tech, entre outras tecnologias. Já do lado da iniciativa privada, vale lembrar que os investimentos de Venture Capital (VC) também se mantiveram, onde startups de tech e empresas mais maduras continuaram recebendo aportes no período, considerando que só o Brasil representa mais de 50% do volume de negócios de VC da América Latina. Somos uma potência!

A exemplo, um edital importante foi promovido por meio de uma parceria entre o SENAI, a ABDI e a Embrapii, que selecionou mais de 30 projetos destinados a prevenir, combater ou tratar os efeitos do novo coronavírus, nos quais  vão investir R$ 27,7 milhões. Vale a pena ver os projetos a serem investidos e observar a criatividade e inovação destes. Impressiona! Ainda na busca de mitigar o Covid-19, temos o Polo Tecnológico do Porto Digital em Recife que, junto com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), selecionaram startups para projetos de inovação aberta a fim de criar soluções para o enfrentamento à pandemia pensando em implementação em curto prazo. Outra iniciativa que vale citar foi o desafio, realizado pela 100 Open Startups, em busca de soluções inovadoras nas mais variadas áreas, como trabalho a distância, saúde e tratamentos, varejo, comércio e logística, educação, mobilidade.

Incentivo a inovação além da pandemia

O Programa IA2 MCTI, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) que está sendo conduzida com o apoio da Softex, também avançou nesse período. Eles anunciaram a relação de treze Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e de aceleradoras, que vão selecionar e apoiar projetos em inteligência artificial no agronegócio, saúde, indústria e cidades inteligentes as quatro verticais priorizadas pelo Plano Nacional de IoT.

Saindo do forno, e que merece destaque, foi recentemente lançada pela Finep/MCTI, com edital que vai destinar R$ 50 milhões em subvenção econômica para tecnologias 4.0, em busca de excelência em soluções alinhadas a indústria, saúde, agro e cidades inteligentes (novamente as verticais prioritárias pelo PNIoT). Serão analisadas propostas de empresas que contemplem, ao menos, uma das tecnologias habilitadoras, tais como: 5G, IoT, Inteligência Artificial, Robótica Avançada, Computação em Nuvem, Manufatura Aditiva, entre outras.

E falando da tão combalida indústria brasileira, setor que já tem demandado muita digitalização tecnológica e inovação dentro da indústria 4.0 para os novos tempos pós pandemia, temos o tradicional Edital de Inovação para o segmento via parceria entre Sebrae, Sesi e Senai, que visa aumentar a produtividade e a competitividade de nossa indústria.  Edital que vem reforçado com a missão de viabilizar agentes empreendedores em soluções nas mais diversas categorias, incluindo o capítulo especial para o Rota 2030 que incentiva desenvolvimento de soluções para a indústria da cadeia automotiva.

Poderia aqui ainda falar, e muito, do Embrapii e suas diversas linhas em IoT, Rota 2030, as mais recentes envolvendo vários novos ICTs em convênios com muitas universidades Federais; Finep Conecta; e muitos outros. Sou testemunha presencial que há um empenho orquestrado pelo governo federal via as Câmaras da Industria 4.0, Agro 4.0 e Saúde 4.0 procurando incentivar o empreendedorismo por meio destes investimentos. Apesar da sensação congelante que nos traz a pandemia, poderia apresentar várias outras iniciativas tão boas ou melhores, mas o fato é: O Brasil não parou! Nossa iniciativa, resiliência e capacidade criativa e empreendedora também não, inclusive nosso DNA de fazer/realizar mais com menos.

Agora, voltando a falar de investimentos da iniciativa privada, vejamos também a exemplo o convênio entre a Qualcomm Ventures LLC – braço de investimento da Qualcomm, e o BNDES: selecionaram a pouco a Indicadora Capital como a gestora do fundo de investimento na ordem de R$160 Milhões e que investirá em startups que desenvolvam produtos e serviços para Internet das Coisas.

Acredite, nos primeiros 4 meses deste ano, apesar das crises política, econômica e sanitária, os investimentos em “seed” e “pre-seed” não só se mantiveram, mas até aumentaram comparativamente ao mesmo período do ano passado. Os dados organizados pela Astella Investimentos apontam que aportes de VC são uma classe de ativos anticíclica e o total aportado pelos investidores tem subido, sendo que as principais startups que receberam aportes são as fintechs, adtechs, healthtechs e retailtech.

É claro que, com a pandemia, leva-se a uma tendência de negócios que aponta para o crescimento de investimentos nas áreas de trabalho remoto, ensino à distância, telemedicina, logística de última milha, e-commerce, entretenimento em casa e serviços financeiros digitais.   Outro direcionamento tem sido a movimentação para fusões e aquisições, que apresentou uma retração em abril, mas já está acelerando novamente e atraindo aportes, principalmente nos setores mais resilientes, como os de agronegócio e tecnologia. A queda de juros no mercado interno está estimulando a migração de capital para o mercado de VC que, por sua vez, aplicará seus recursos nos negócios que se mostrem mais sustentáveis e mais resistentes – “startups camelos” é um termo em ascensão.   Afinal, lição aprendida.

É evidente que não venceremos a crise atual se nos isolarmos. Investir em inovação e nas novas tecnologias é fundamental para revertemos esta crise e unirmos forças é imprescindível para vencermos os desafios, além de estarmos atentos aos editais governamentais e oportunidades via atração dos investimentos, nacionais e estrangeiros, que caracterizam a pujança do Brasil no mundo. Continuo apostando no nosso capital humano, na criatividade, na capacidade de realização e na resiliência dos empreendedores, no bom senso de oportunidade de nossos investidores. Tudo bem orquestrado certamente fará acontecer o nosso Brasil.

 

* Werter Padilha atua há mais de 35 anos na área de TI, CEO das empresas Taggen Soluções IoT e Sawluz, empresas especializadas em soluções IoT/IA e processos logísticos/EDI.  Atuou como advisor na estruturação do Plano Brasileiro de Internet das Coisas.   Atualmente conselheiro da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software) e também expert do Comitê de IoT desde 2016.

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