A automação e o (des)Emprego

A robótica e a inteligência artificial mudarão nossas vidas

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10:02 am - 23 de abril de 2019

Há uma expectativa de que no médio prazo – 10 a 15 anos – a automação terá um grande impacto nas vidas das pessoas. Os desenvolvimentos em inteligência artificial e robótica – que hoje já é ensinada a adolescentes – deve eliminar uma série de postos de trabalhos e alterar muitos dos processos de empresas. O Watson – plataforma de inteligência artificial da IBM – já é utilizado no país, e o português é o seu primeiro idioma (depois do Inglês). Talvez, o Brasil seja o primeiro país emergente a sofrer mais intensamente os impactos da automação.

Antever tais impactos no Brasil é mais complicado do que observar o que ocorre em países mais avançados. Não acontecerá no Brasil o mesmo que acontece na Europa ou EUA com apenas algum tempo de atraso. Acontecerá algo diferente.

Isso se deve as nossas particularidades, a nossa cultura e aos valores que afetam o nosso sistema tributário, trabalhista e moral.

Em São Paulo, os ônibus ainda têm cobrador, apesar desse posto de trabalho já ter sido há muito tempo eliminado nos países de primeiro mundo. Esse é um exemplo de como nosso sistema trabalhista afetou a difusão de tecnologias de automação amplamente adotados no exterior. Não é o caso de criticar e dizer que precisamos mudar para evoluir, porque não vamos mudar. Devemos entender que nossos valores são características do nosso contexto que irão condicionar a forma com que novas tecnologias irão afetar nossas vidas.

Ainda sobre o sistema trabalhista, as mudanças sobre o trabalho das empregadas domésticas trouxeram impactos na automação doméstica. O aumento do custo destas trabalhadoras (sem que isso implique em salários maiores), estimulou a adoção de tecnologias – como máquina de lavar louças – que substituem, pelo menos em parte, a necessidade de uma família de classe média de ter uma empregada.

As tecnologias de automação têm aplicação potencial em virtualmente todas áreas. No varejo, por exemplo, já existem caixas de autoatendimento. No Japão, Canadá e Inglaterra é possível ir ao supermercado e pagar suas compras diretos em um caixa de autoatendimento – sem interação humana. No Brasil não temos isso, e é difícil de imaginar que teremos em um futuro próximo. Talvez porque nossos valores sejam simplesmente incompatíveis com o comportamento esperado em uma situação dessa natureza. De novo, não devemos dizer que precisamos mudar para ter aqui o tem lá, porque aqui não é lá.

Carrro de aluguel em Londres v2

Em Londres é possível alugar um carro estacionado na rua por cerca de R$ 15,00 por hora. Com o desenvolvimento de veículos autônomos – uma aposta das montadoras para a próxima década – qual será o papel dos taxistas e dos motoristas de aplicativos no transporte urbano?

É preciso que pensemos nesta nova realidade em diferentes níveis. O primeiro é dos impactos na sociedade e como o país vai lidar com o crescente desaparecimento de postos de trabalho com tarefas mais repetitivas e estruturadas e, portanto, mais passíveis de serem automatizadas. Não existe ainda uma discussão para preparação dos jovens que irão entrar em  um mercado de trabalho muito diferente do que existe hoje e tampouco como será a requalificação profissional das pessoas que serão substituídas por robôs.

O segundo nível de reflexão é dentro das organizações. A automação afetará os processos e os modelos de negócio, o que poderá trazer alterações no posicionamento das empresas de diferentes setores. Assim como pessoas perderão seus empregos, empresas perderão sua fatia de mercado caso não consigam se adequar a esta nova e desconhecida realidade. Cabe aos gestores encontrar caminhos que mantenham as empresas sadias e competitivas, e atendendo às expectativas de seus acionistas, funcionários e comunidade.

Por fim, o terceiro nível é o pessoal. Cada um de nós deve tentar imaginar qual será seu papel neste novo contexto. Esperar pelas definições de políticas do governo e ou por planos de ação das empresas onde trabalhamos hoje é se deixar levar pela correnteza dos acontecimentos. Imagino que essa seja uma opção para muitas pessoas. É uma opção para você também?

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