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A era das organizações humanizadas

O ser humano é humano em sua essência? O que é ser humano? O dicionário Aurélio traduz o substantivo “humano” como “indivíduo dotado de inteligência e linguagem articulada, pertencente à espécie humana”, e, por outro lado, também traz a definição de “humano” como adjetivo para “bondoso; que é piedoso, indulgente, compreensivo”. Sabemos que o segundo significado não se encaixa, necessariamente, em todo ser humano e os que se encaixam não estão o tempo todo nessas condições. Mas sabemos, também, que é uma necessidade da nova era buscar ações mais humanas e pertencer a organizações humanizadas, que são capazes de olhar o todo e pensar além da própria existência.

Historicamente, as empresas, os locais de trabalho, são vistos como espaços para nos desenvolvermos profissionalmente, apenas. Mas dedicamos tanto do nosso tempo e nossa energia nesse ambiente que não podemos perder a oportunidade de também evoluirmos como pessoa nesse local que envolve tantos desafios e aprendizados. E, felizmente, isso tem sido notado e exigido, seja por colaboradores de organizações, possíveis colaboradores ou outros grupos de ‘stakeholders’. Seguindo as definições do Aurélio, organizações caracterizadas pelo adjetivo humano estão em pauta e têm sido uma boa aposta para o sucesso.

Companhias humanizadas agregam outros valores além do retorno financeiro. Essas organizações levam em consideração todas as dimensões do ser humano e costumam promover melhorias na qualidade de vida e de trabalho, visam a construção de relações mais democráticas e justas, mitigam as desigualdades, fomentam um senso de coletividade e pertencimento, além de estimular o desenvolvimento e o crescimento das pessoas. Todos esses ganhos refletem na imagem dessas companhias, que passam a ser bem vistas no mercado. Citando Philip Kotler, “com uma empresa mais humanizada, os consumidores são capazes de desenvolver um vínculo forte e singular, que transcende as transações normais de mercado”.

A pesquisa “Empresas Humanizadas do Brasil”, divulgada em março de 2019, realizada por pesquisadores da USP, analisou 1.115 companhias durante dois anos e notou que, em períodos longos, de 4 a 16 anos de análise, as “empresas humanizadas” chegam a ter rentabilidade duas ou mais vezes superior à média das 500 maiores empresas do país. Essas organizações também alcançam, segundo a pesquisa, uma satisfação 240% superior junto aos clientes, além de 225% mais bem-estar aos colaboradores. Para o estudo, essas empresas foram avaliadas com base em três critérios: geração de valor financeiro, sustentabilidade e bem-estar social.

Bob Kegan e Lida Lahey, professores de Harvard, explicam, no livro “An everyone culture: becoming a deliberately developmental organization”, uma expressão que define bem essas organizações que se adaptam e buscam aprender a lidar com essa crescente complexidade que seus colaboradores enfrentam como seres humanos, a DDO – Organizações Deliberadamente Desenvolvimentistas (Deliberately Developmental Organization, em inglês).

No livro, os autores fazem uma provocativa de reformulação do potencial organizacional para transformar a maneira como as pessoas visualizam a cultura do trabalho no século XXI. De acordo com Kegan e Lahey, essas DDOs fornecem o ambiente ideal para lidar com a crescente complexidade da relação entre organizações e seres humanos, pois elas deliberadamente integram o desenvolvimento humano, com ambientes de aprendizado adaptativo, que acolhem a fragilidade e a vulnerabilidade.

O que os autores chamam de DDOS são essas organizações humanizadas. Afinal, ser humano é aceitar que todos temos nossas fragilidades. Uma companhia que preza por isso, se abre para que seus colaboradores tenham espaço para ser eles mesmos e ter suas vulnerabilidades acolhidas, respeitadas e evoluídas. Ser humano é ser de verdade, genuíno.

Visto a importância de focar no desenvolvimento humano e nas necessidades dessa nova era, é nosso papel, como empresa, adotar um olhar mais compreensivo com o todo e pensar além da nossa própria existência. Este exercício pode causar um grande impacto na contribuição para uma sociedade mais colaborativa, equilibrada e sustentável.

Em meio à evolução tecnológica e situações em que máquinas ocupam o espaço de indivíduos, o ser humano escolheu ser humano e nós precisamos escolher apoiar essa evolução.

*Maria Teresa Fornea é CEO e fundadora da Bcredi

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