5 mulheres e seus desafios para vencer no setor de TI
Depoimentos de cinco lideranças femininas do setor revelam dificuldades e vantagens de escolher trabalhar com tecnologia
Que o mercado de tecnologia da informação está muito aquecido para profissionais qualificados não é novidade. O número de vagas disponíveis nunca foi tão alto, o que também elevou os salários e tornou as carreiras em tecnologia uma ótima opção para quem ainda não se formou, ou para quem quer mudar de área.
De acordo com Guia Salarial 2022 da consultoria de recrutamento e seleção Robert Half, essa busca por mão de obra qualificada seguirá em alta no próximo ano. A indústria de tecnologia aparece entre as que mais aquecem o mercado de trabalho neste momento de retomada da economia após a pandemia de COVID-19.
Outra demanda crescente por parte das empresas é pela inclusão de mulheres, uma vez que uma parcela bastante reduzida dos trabalhadores na área é do gênero feminino. Para estimular o ingresso de profissionais no mercado, ouvimos cinco profissionais de tecnologia, com diferentes graus de experiência, que podem servir de exemplo para meninas que queiram apostar na carreira em TI.
Gisele Gherson, gerente executiva de TI da CDF
“Comecei minha carreira em uma consultoria. O objetivo era desenvolver sistemas na área da construção civil. Foi assim que entrei em TI e me apaixonei pela área. Adoro resolver problemas e falar com pessoas.”
“TI é uma área transversal ao negócio, que demanda visão sistêmica. Nós trabalhamos em conjunto com profissionais de vários outros setores de uma empresa. Pensamos juntos e criamos juntos soluções para otimizar, melhorar processos e, assim, trazer resultados para o negócio. De fato, é um ambiente majoritariamente masculino, mas isso nunca me limitou ou me intimidou. Nem penso a esse respeito.”
“Gosto da forma como homens e mulheres trabalham. É verdade que, ao longo da trajetória, as mulheres aprendem a se posicionar, a usar um tom diferente do normal, mas, felizmente, agora, o cenário é outro. Lugar de mulher é em TI ou onde mais ela quiser. É preciso ficar claro para as meninas que as profissões na área de exatas também são opção. E posso afirmar que, no caso de TI especificamente, essa visão sistêmica tão natural da mulher é um grande diferencial.”
Gisele Gherson é, desde 2018, gerente executiva de TI da CDF, marketplace B2B2C. Lidera uma equipe de 18 pessoas e é responsável pelas áreas de projetos, sistemas, canais digitais, infraestrutura e desenvolvimento interno da companhia. Também responde pela manutenção e evolução do ambiente tecnológico em alta disponibilidade. Tem 25 anos de experiência em TI, atuando em empresas de grande porte, nacionais e internacionais. Tem formação em Engenharia Civil pela USP e MBA em Tecnologia da Informação pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras.
Lilian Lima, CTO da Zenvia
“Nunca sofri preconceito por ser uma mulher na área. Sempre tive muito respeito e fui reconhecida nas atividades que desempenhei.”
A inovação e a possibilidade de criar e desenvolver a motivam. Essa é uma das razões pelas quais ela escolheu a área de tecnologia.
Lilian acha que cada um deve buscar aquilo que é melhor, independentemente das dificuldades. Isso porque, seja qual for a área, sempre haverá desafios.
“Isso vale para as mulheres na tecnologia e na área de exatas. O importante é estudar e ter confiança naquilo que faz.”
Lilian Lima é graduada em Ciência da Computação e pós-graduada em Desenvolvimento de Sistemas, Tecnologia da Informação, Administração e Gerenciamento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Passou por grandes empresas do setor de tecnologia, como a Neogrid, e ingressou como CTO na Zenvia em janeiro de 2020.
Ana Paula Gonçalves Serra, professora de Engenharia de Computação e Tecnologia do Instituto Mauá de Tecnologia
“Escolhi essa área pela minha afinidade com exatas, por gostar de matemática e principalmente pelo desafio de resolver problemas computacionais e poder automatizar processos usando a tecnologia. O que mais me encanta são os desafios na resolução de problemas de diversos segmentos e o aprendizado contínuo em novas metodologias, práticas e ferramentas que surgem a todo momento, além de contribuir para a qualidade de vida das pessoas, para a ciência, para a otimização de processos e melhoria de negócio nas empresas.”
“Vale ressaltar que, sendo mulher, muitas vezes é necessário provar ainda mais a competência, até ganhar credibilidade. Por isso, para que haja mais mulheres na área de tecnologia, é fundamental o incentivo ainda nas escolas de Ensino Fundamental e Médio sobre as diversas profissões, inclusive TI, para que cada pessoa possa ter a consciência de que pode ser o que quiser, desde que se identifique com as atividades da sua profissão.”
Ana Paula Gonçalves Serra é doutora e mestre em Engenharia da Computação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade São Judas Tadeu. Professora nas disciplinas de Engenharia de Software e Projeto Integrador nos cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Big Data na Fatec-Ipiranga. Professora nas disciplinas de Devops e Engenharia de Software no curso de Engenharia da Computação no Instituto Mauá de Tecnologia. Atua há 20 anos na área de TI.
Zilda Maria Hessel, diretora de consultoria e implementações da Sonda
Ingressou cedo no mundo da tecnologia. De família humilde, ainda no Ensino Médio, começou a atuar como programadora trainee em uma empresa de médio porte. Hábil em matemática, fez colegial técnico em processamento de dados, profissão então ascendente em 1986.
Depois de passar por diversos cargos, migrou definitivamente para a gestão de TI. Mesmo sendo um ambiente majoritariamente masculino, Zilda driblou adversidades ao perceber que tinha vantagens e que poderia usar certas dificuldades a seu favor.
“Com o tempo, fui percebendo que meu diferencial competitivo é justamente o fato de ser mulher. Acredito que a chave do sucesso é usar como ferramenta de trabalho minhas habilidades como mulher e mãe – dentre elas, a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo e de resolver conflitos com facilidade.”
Desde 2018, Zilda é diretora de consultoria e implementações da Sonda, empresa latino-americana de soluções e serviços de tecnologia. Executiva de TI com mais de 25 anos de experiência, sendo que nos últimos 15 atuou como líder em grandes empresas dos setores financeiro, serviços, seguros e saúde.
Flávia Fávero, analista de gestão de serviços e governança de TI da Ingredion
O encanto de Flávia pela tecnologia vem da vontade de trabalhar em uma área dinâmica, com um olhar para melhoria de processos e a oportunidade de ter uma visão holística do negócio. Para ela, ao contrário do que se imagina, é uma área que requer bastante empatia e capacidade de gestão de prioridades e expectativas.
Para a especialista ainda há deficiência de diversidade de gênero no setor de TI.
É uma realidade que faz com que todos deixem de ganhar.” Ela acredita que a diversidade permite um maior balanço entre habilidades, maneiras de pensar, agir e liderar que é muito positivo para as equipes. E acredita que práticas mais flexíveis, como as que vêm sendo adotadas desde o início da pandemia, podem ajudar a melhorar a diversidade na área.
“A contínua e progressiva adoção de medidas criativas de flexibilização do trabalho, para melhor adequação às escolhas das mulheres, principalmente no que diz respeito à família, pode ajudar a atrair e manter mais mulheres no mercado de trabalho em geral.”
Flávia atua na Ingredion, especialista em soluções de ingredientes de origem natural, desde 2018. Ingressou por meio do programa de estágio para a área de melhoria contínua. Em 2020, migrou para o setor de tecnologia, onde lida com a gestão de serviços de governança e TI.